Bolacha Maria

Bolacha Maria
Com leite, não pode faltar.

sábado, 19 de setembro de 2009

Der Himmel über Berlin


Quando a criança era criança
Ela caminhava com os braços balançando
Ela queria que a ribeira fosse um rio,
O rio uma torrente
E uma poça d'água, o mar.

Quando a criança era criança,
Ela não sabia que era criança.
Tudo era inspirado nela,
E todas as almas eram uma só.
Quando a criança era criança,
Não tinha opinião sobre nada,
Não tinha nenhum hábito
Sentava-se de pernas cruzadas,
E saía a correr de repente.
Tinha um redemoinho no cabelo
E não fazia caretas quando ia tirar fotografias.

Quando a criança era criança,
Era a época das perguntas:
Por que eu sou Eu
E não Tu?
Por que eu estou aqui e
por que não lá?
Quando começou o tempo
E onde termina o espaço?
A vida sob o sol não é apenas um sonho?
Não seria tudo o que eu posso ver, ouvir e cheirar
Apenas a aparência de um mundo anterior a este mundo?
Existem mesmo o Mal
E pessoas que são realmente más?
Como é que eu, o Eu que eu sou,
Antes que eu viesse a ser, não era ?
E como é que uma dia eu,
o Eu que eu sou, não mais serei
o eu que Eu sou?

Peter Handke
(tradutor desconhecido)


Poema que o anjo recita e não consegue compreender.
No filme ASAS DO DESEJO de Wim Wenders,
argumento de Wim Wenders e Peter Handke.
Título Original: Der Himmel über Berlin
França, Alemanha, 1987.

como se tornar um mestre zen


o caminho

[como se tornar um mestre zen]

fui expelida da vacuidade da meditação zen pelo telefone:
- tu nao sabe quem eu peguei.
é claro que nao era de se espantar que houvessem falhas na matrix. eu mesma havia descoberto que todo o pensamento linear levaria ao caos mental e que o ponto de partida deveria ser o não pensamento. passava me entretendo com minhas meditações zen que consistiam em ler textos e tentar podenrar sobre eles até pegar no sono.
- minha cara, este foi mais um pretexto de vacuidade.
mas é claro que ela ja sabia.
por um segundo me senti incrivelmente bem: havia justiça, então, no mundo dos homens?
mas é claro que não pq, para começar, o mundo jamais fora dos homens. nao, nao estamos falando de feminismo aqui. a busca do orgasmo perfeito, no limite do raciocinio linear, que empurra as pessoas a conjunçao carnal, nao passa de uma ideia um tanto equivocada de vacuidade, ja que dela nascem coisas e sao sempre coisas questionaveis. nada vazias, um tanto amplas e, seguidamente, desconfortaveis.
lá, a tarde de sol despontando. talvez eu devesse ouvir com curiosidade
- ouvi, no ônibus, que os dois mantém comportamenos similares.
de fato, uma certa esquizofrenia no toque criativo dinivo. era tudo mero acaso ou teria sido, nao fosse a constatação de que eu devia tudo as incertezas do querer/nao querer.
durante cinco anos ela se manteve fiel, coluna ereta e, por fim: CRAU.
talvez a afirmação mais correta, para mim, fosse: nao, nao quero isto assim como esta.
mas o que eu nao queria, sinceramente, era esta minha consciencia avulsa, sem vacuidade, latinidade, afinidade.
entao decidi que o melhor era continuar tentando. um texto, quem sabe, me conduza a sabedoria suprema. quando, depois de anos calados eles conseguem só dizer poesia.


"vai vir o dia
quando tudo que eu diga
seja poesia " *

(...)

entao, quem sabe, este era o fato. a busca interna pela contraçao divina e, neste momento, a sabedoria. sim, eu queria. estava, finalmente, decidida: havia, muito claramente em mim a necessidade de descobrir o poder da auto vacuidade.
- oi, vamos foder?
- claro.

* trecho de poema de paulo leminski


mariana e. messias
(Niandrah LaDez)